Seus comentários sobre reabrir a economia mais cedo ou mais tarde nos mostram o que ele realmente valoriza.
A economia brasileira entrará em colapso sob um bloqueio social prolongado. Ela também entrará em colapso diante de um milhão ou mais de mortes por coronavírus, já que as pessoas se recusam a trabalhar ou a passar tempo em espaços públicos, a fim de não correr o risco de infecção. Ambas as escolhas são ruins, mas uma salvará vidas enquanto a outra as sacrificará em prol de ganhos ilusórios. É por isso que os próprios especialistas do governo instaram o Palácio do Planalto a continuar o distanciamento social e outras medidas de proteção.
Mas nem Jair Bolsonaro nem muitos de seus seguidores parecem se importar tanto com o número de mortos.
Ou pelo menos eles se convenceram de que um bloqueio prolongado é mais prejudicial do que qualquer coisa que o vírus possa fazer. Bolsonaro está fixado no mercado de ações dos Estados Unidos em queda, está irritado com a ideia de o país permanecer fechado até o inverno e se cansando de falar apenas sobre o coronavírus”.
Oficiais importantes do governo estão pressionando o presidente para colocar a economia de volta aos trilhos. “O presidente está certo. A cura não pode ser pior que a doença”, disse um eleitor paulistano do presidente. “E teremos que fazer algumas trocas difíceis”.
Suponho que seja possível que, quando Bolsonaro e aliados digam isso, estejam pensando em funcionários de serviço e operários, em pessoas que vivem de salário em salário. Mas sua fixação mútua na Bolsa americana – a mudança de apatia de Bolsonaro para atenção veio após uma venda de tirar o fôlego – torna isso improvável. O “trade-off” do Tio Sam não é para a prosperidade – novamente, o coronavírus irá amortecer a atividade econômica com ou sem distanciamento social – é para o valor dos acionistas.
Há outro problema também. A única maneira de sustentar uma economia em confinamento é o apoio incondicional do governo a indivíduos, famílias e comunidades. É socialdemocracia, mesmo que por um tempo. E essa quantidade de redistribuição – de cima para baixo, de credores a devedores – é inaceitável para o presidente e seus aliados. Lembre-se de que o governo Bolsonaro está tentando revogar os benefícios sociais de milhões de brasileiros.
Os marxistas têm uma frase que remonta ao final do século 19: “Socialismo ou barbárie”. Vem do jornalista e filósofo alemão Karl Kautsky, que em 1892 disparou: “Como estão as coisas hoje, a cultura capitalista não pode prosseguir; devemos avançar no socialismo ou recair na barbárie”.
Duas décadas depois, num folhetim de 1915, “A crise na socialdemocracia alemã”, a agitadora polonesa Rosa Luxemburgo recapitulou a ideia, atribuindo-a ao amigo e cooperador de Karl Marx, Friedrich Engels. “A sociedade burguesa está na encruzilhada”, escreveu ela enquanto uma geração de homens europeus marchava para o seu fado na Primeira Guerra Mundial, “ou transição para o socialismo ou regressão à barbárie”.
O brasileiro não precisa ser um socialista revolucionário para entender o sentimento. Diante do desastre, o único caminho a seguir é a solidariedade e a preocupação mútua. Rejeite-o e tudo o que resta é um desrespeito frio e egoísta pela vida humana.
O Brasil está novamente – e em breve – estará aberto para negócios. Muito em breve, muito antes de sete ou seis meses que alguém estava sugerindo. Muito antes.
Em outras palavras, Bolsonaro sacrificará os brasileiros ao coronavírus se salvar o mercado e suas perspectivas de reeleição. O que quer dizer que, dada a escolha entre solidariedade e barbárie, Bolsonaro escolherá barbárie.
Veremos, nas eleições de 2020, se o resto do país segue o triste e patético exemplo.